segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Desenrolar da História: O Quinto Selo Ap 6.9-11


 “O quinto selo é o quinto componente da História”[1]

Com esta frase, Ellul vê neste selo, não uma descontinuidade com o grupo definido de quatro cavalos. Para ele, o clamor dos mártires não é um elemento solto, desconexo, que se situa noutro plano e noutro nível, antes algo bem concatenado e relacionado. Para ele, o quinto selo é parte integrante da história.  “A oração dos mártires é um fator decisivo(…) Podemos conceber a história independentemente da ação espiritual provocada pela oração e pelo testemunho?”[2]
A oração destes mártires, homens que deram suas vidas pelo testemunho do Evangelho, torna-se um elemento vital no processo da história, por esta razão, torna-se um dos selos que determinam o sentido da história. Sua ação parece acelerar o curso da história, seus movimentos.
A oração é uma das forças motrizes da história. Esta é uma das bases e uma das razões pelas quais a igreja deve orar. Orações dos justos, e especialmente dos mártires, desencadeiam reações nos céus. Ap. 5:8; 8:3-6. O clamor e as orações do povo de Deus trazem o juízo de Deus, o acerto de contas. O Cordeiro revela sua ira contra todos aqueles que se opuseram ao testemunho da verdade. O texto revela que este juízo segue em duas direções, que são reveladas no sexto selo.

1.   Tragédias sobre a natureza  - Após o clamor dos mártires, várias manifestações se dão na terra: Um grande terremoto, o sol se enegrecendo, a lua se transformando como em sangue, as estrelas caindo por terra e o céu se recolhendo como um pergaminho.

2.   A reação dos homens diante do juízo – Seguindo-se às orações dos mártires e às tragédias, é-nos revelado a reação pavorosa e angustiante dos homens, que já não temem a morte, mas algo mais pavoroso que a própria morte, isto é, o Grande dia da ira do Cordeiro.

Estas testemunhas são o pivô da história, e elas pedem que o tempo desta história seja acelerado, mas Deus lhes responde que elas continuem em repouso, até que seu número seja completo, isto é, até que o testemunho da Palavra seja totalmente realizado no mundo. 6:11

O que representam estes mártires que dão testemunho?
A testemunha é sempre aquela que é chamada a depor numa determinada situação. Ela vem de fora dos tribunais, para relatar o que presenciou. A testemunha é o fiador de alguma coisa. A testemunha de um crime é alguém que viu algo, ouviu algo, ou sabe de algo relacionado a este fato e pode relatar isto. A testemunha revela fatos, traz a tona fatos desconhecidos, mostra aspectos não percebidos, traz um fato inesperado e modifica o processo.
Aqui, há quatro cavalos e as testemunhas que aparecem, que intervém. As testemunhas apesar de não serem um elemento de dentro das forças, serve de ligação para o inexplicável, desconhecido, novo.
A testemunha é alguém que denuncia a força dos poderosos, a força destes cavalos implacáveis. A testemunha não entra em nenhum jogo, nem político nem econômico, como aponta Ellul, mas exprime o que está no exterior, atualizando o fato, tornando-o atual e presente. Este quinto selo é aquele que rompe o autoritarismo e dá lugar para a verdade e a liberdade se expressarem. Ellul afirma que o quinto selo é a liberdade do homem, de ser aquilo que Deus quis que ele fosse, e que mesmo em meio a ameaças e à própria morte, não deixa de se revelar, de dizer o que aconteceu, de mostrar as verdades.

Este texto suscita algumas questões teológicas, vamos nos deter rapidamente nelas, para em seguida, dar o desfecho do simbolismo deste quinto selo.

Os problemas do texto:
i.     O destino final dos mortos - Segundo os judeus do séc. I a.C, as almas dos justos são guardadas sobre o trono da glória divina, encontrando-se num estado intermediário, da espera (Na teologia judaica mais antiga, após a morte existia o aniquilamento, a pessoa simplesmente deixava de existir). Deste texto vão surgir muitas heresias, sobre a imortalidade da alma afirmando que existe uma vida intermediária no limbo, ou num salão de espera para se ingressar no céu. Este conceito influenciou profundamente a teologia do adventismo do sétimo dia, que é fortemente judaica (com o conceito do sábado, por exemplo).[3] Vários textos nas Escrituras falam dos crentes gozando uma vida de comunhão com Deus imediatamente após a morte. (ver nota de rodapé).
ii.   O desejo de vingança dos mártires - O julgamento que o mundo pronunciou contra estes mártires é o julgamento que o mundo faz de si mesmo. A acusação deles se torna o seu próprio veredicto. Os mártires não desejam uma vingança pessoal, não reclamam a sua própria dor. O que importa para os mártires é o triunfo da justiça de Deus, quando o mal será vencido. Para Ellul, este mal não é apenas a transgressão de preceitos morais, mas de realidades muito mais fundamentais: da ruptura com Deus, ao condenarem a testemunha da sua Palavra; e do mal que é feito aos homens, a prova é a condenação à morte destes homens[4]. É um mal com dupla face, já que tem a ver com a iniqüidade do homem e sua atitude em rejeitar o testemunho de Deus, e a sua perversão em apagar a vida daqueles que dão testemunho da presença de Deus na terra. A vingança que se busca aqui é da condenação definitiva do mal e do estabelecimento de uma presença que exerça a justiça na terra.
iii. O número dos conservos a serem mortos - Como explicar Esta idéia? O conceito aqui é de que a igreja de Cristo sempre terá os seus mártires. O Século XX é o século no qual foram executados mais mártires na história. Os historiadores cristãos admitem que mais mártires morreram neste século que todos os mártires dos outros séculos colocados juntos. O comunismo com sua cortina de ferro na Rússia e a cortina de bambu, na China executou milhares de irmãos. Muitos cristãos têm sido perseguidos e martirizados por guerrilhas, outros tantos debaixo de regimes islâmicos. São muitos os que ainda morrem por testemunharem a Palavra de Deus. O Número de mártires ainda não se completou, outros ainda virão, até o fim.

As orações dos mártires são poderosas forças da história. O seu clamor e suas orações têm um efeito profundo diante do trono de Deus. E o clamor de seu sangue chega ao altar do Senhor, movimentando aquele que está centrado no trono, do qual procedem todas as decisões. O clamor dos mártires chega a Deus, que tem o poder da história, que é o Senhor da história.

Debaixo do altar:
Onde se encontram estes mártires? “debaixo do altar”. A alma daqueles que foram martirizados, encontram-se debaixo do altar, isto quer dizer que o sangue destes homens foi derramado no altar como uma oferta e um sacrifício a Deus.
No tempo dos Macabeus, os judeus sofreram tremendamente por sua fé. Conta-nos a história que uma mulher, mãe de 7 filhos foi ameaçada de morte pela sua inflexibilidade e lealdade aos ensinamentos judaicos. Quando ameaçaram seus filhos ela não retrocedeu, ela lhes disse que Abraão não se recusara em oferecer Isaque e quando seus filhos chegassem ao céu eles poderiam dizer a Abraão que ele tinha construído um altar de sacrifício, mas sua família tinha construído sete.[5] Quando Inácio de Antioquia foi levado a Roma para ser queimado, sua oração é que ele fosse para Deus um sacrifício agradável.[6]

Conclusão: O valor do martírio para Deus:
Bonhoeffer, um dos mais conhecidos mártires cristãos de nosso século, que se opôs fortemente ao sistema do III Reich, era um pastor e teólogo, que foi executado, uma semana antes da queda de Hitler, diz:  “O sofrimento mesmo o mais oculto que lhes for causado, tem a promessa de um dia vir à luz para juízo dos perseguidores e para glorificação dos mensageiros. Igualmente o testemunho dos mensageiros não permanecerá na obscuridade, mas virá a público”. [7]
Uma das cenas mais marcantes da história da Igreja Cristã é a morte de Ridley, um reformador Inglês, e seu discípulo, Latimer. Na hora da morte, em agonia, o discípulo volta-se para seu mestre, sendo queimado junto e diz: “Coragem mestre Ridley, acenderemos neste dia uma luz tão grande na Inglaterra, pela graça de Deus, que ninguém poderá apagar”. O historiador Nichols afirma. “Isto foi realmente uma profecia. A maioria dos ingleses rejeitou esta forma de religião que oferecia semelhantes espetáculos de selvageria, em nome de Cristo. A Inglaterra tornou-se consideravelmente muito mais protestante, após a morte da rainha Maria”. [8]




[1]  Ellul, Jacques - Apocalipse, arquitetura em movimento, São Paulo, ed. Paulinas, 1979, pg. 172
[2]  Ellul, (1979) op. Cit. Pg. 172,173
[3]  Sobre o destino dos mortos:
(a) -  O termo “sono” usado após a morte, seria um eufemismo, podendo ser uma afirmação de consolo para suavizar a dor, mais que uma declaração doutrinária. A morte é vista como descanso dos afazeres terrenos.
                (b) - Vários textos nas Escrituras falam dos crentes gozando uma vida de comunhão com Deus imediatamente após a morte: Lc. 16:19-31; 23:43;  II Co. 5:8; Fp. 1:23; Ap. 6:9; 7:9; 20:4; At. 7:59
                (c) - O dia do juízo não é necessário para se chegar à decisão final, pode ser usado apenas como o anúncio de um veredicto, ou, o anúncio solene da sentença.
(d)  - Ler II Co. 12:4
A posição reformada é a seguinte:
a)- Jesus afirma para o ladrão na cruz, que naquele mesmo dia encontrar-se-ia com ele; Lc. 23:43
                b)- Após a morte de Lázaro e o homem rico da parábola, ambos experimentaram uma realidade imediata e permanente na existência - Lc. 16:19-31
                c)- Estevão, na sua morte vê o Filho de Deus à direita do Pai, e entrega o seu espírito ao Filho - At.7:54-60
                d)- Paulo via a morte como o caminho para o encontro imediato com Cristo- Fp. 1:23


[4] .Ellul (1979) op. Cit. 173
[5]  Barclay, William - The Revelation of John, II, Edinburgh, The Saint Andrew Press, 2a. Edição, 1962, pg. 13.
[6] Barclay, (1962), op. Cit. 14
[7] Bonhoeffer, Dietrich - Discipulado . São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1980, pg. 132
[8] . Nichols, Roberto Hasting – História da Igreja Cristã, Casa Editora Presbiteriana, S. Paulo, 1978, pg. 177.

Ap 6: As Forças da História: Os 4 cavaleiros do Apocalipse



Introdução:

Muitos tem tentando entender e explicar o sentido da História humana. As motivações, as ambições, as tramas, as forças ocultas e declaradas que agem e interagem neste drama humano, e nesta trama quase infindável de traição, guerras, fome, forças políticas, domínio econômico, controle cultural. Muitos estudiosos, sociólogos, historiadores, tentam descobrir as forças e movimentos que existem neste infinito jogo de poder, ambição , violências e mortes, contudo, “a História não é estática, nela se movem forças distintas e antagônicas. Nela se agitam interesses múltiplos. Cabe ao cristão, na sua contemporaneidade, interpretar o evento aparentemente desproposital como oportunidade e ação de Deus”. [1]

Contexto:

O capítulo 5 demonstra a ação do Cordeiro sobre o destino da humanidade. O Cordeiro de Deus abre o livro selado, que contém o destino e desígnio de Deus para a História. Por ser escrito por Deus, por dentro e por fora, nos mostra que a História não é fruto do acaso, mas obra de Deus, e que não há mais espaço para que um fato novo, inesperado, possa acontecer. O Livro está escrito “Por dentro e por fora”. Não há espaços para “novos e inesperados rabiscos”, o livro está completo e selado.
O Livro revela que existe um sentido secreto da História, um sentido que não está ao controle do homem, que o homem não pode manipular. Este sentido só pode ser encontrado e desvelado pelo Cordeiro de Deus que é o leão da Tribo de Judá.  “O homem não saberá nunca o segredo nem a significação da História da humanidade sem a pessoa de Jesus, e nem o significado de sua existência fora do Cordeiro de Deus. Viverá na noite, e avançará às apalpadelas sem saber de onde vem, para onde vai, nem o que faz, nem se alguma coisa tem um valor ou um sentido, nem o porquê do que ele faz”[1]
Otto Piper , historiador cristão, nos desafia profundamente ao estudo da História. “O verdadeiro anseio de nossa época é entender e interpretar a História. Os acontecimentos que, vistos à superfície, nos parecem tão ambíguos e sem sentido, poderiam, talvez, revelar seu propósito e finalidade, se nos déssemos ao cuidado de procurar discernir, sob à superfície, as forças reais que operam nas profundezas da História. Seguirá a História algum plano? Mover-se-á em direção definida? Haverá um fim para o qual estejam convergindo os acontecimentos históricos?[1]
Parece-nos que é exatamente isto que este texto propõe. Revelar os movimentos e forças que interagem na História, e a dialética que ela traz no seu fluxo e refluxo. O que sela este livro são os selos. 5:1 Há sete selos, mas apenas seis dão os componentes da História; o sétimo desemboca nas trombetas. Os seis primeiros nos fornecem o sentido e a matéria profunda da História; o sétimo, o segredo último. Ao contemplarmos estes sete selos, estaremos percebendo, pela perspectiva de Deus, e com os olhos que vão além da mera superfície, quais as forças reais que operam nas profundezas da História e o desenrolar da História da humanidade, pelos olhos e governo de Deus.
A História está nas mãos de Deus, e só o Cordeiro pode desvelar seu sentido. “Se Deus é o protagonista principal da História, o sentido e o significado profundo deverá ser buscado, sobretudo, em Deus mesmo”. [1] Cada selo, ao ser aberto, revela seu sentido. Os primeiro quatro selos revelam o simbolismo dos cavalos e seus cavaleiros, cf. Zc.1:8-11. Na Bíblia, os cavalos trazem o sentido de força, guerra e conquista[1] Is. 30:16; 31:1; Jo 39:22-28; Ap. 9:7; 14:20; 18:13; 19:11

1.    Cavalo Branco - Este cavalo branco dá lugar a diferentes interpretações. Stierlin levanta a tese de que este cavalo significa a guerra…Bortolini afirma que se trata da força da ganância. [1] Barclay, embora mantenha uma posição mais neutra, acha difícil interpretar como sendo o Cristo, porque para ele este texto fala das tragédias e ais que viriam sobre a terra, e este cavalo representa a guerra. Mas o cavalo vermelho é a guerra. Ap. 6:3,4 (Isto descarta a possibilidade do cavalo branco significar a mesma coisa que o cavalo vermelho). Branco é símbolo de salvação/vida/pureza/santidade (símbolo celeste). Usa uma coroa que lhe “foi dada” (não a conquistou, nem a dominou); o arco, é símbolo da aliança. O cavalo branco 19:11 é a Palavra de Deus ( o verbo a vida). Ellul afirma que seria difícil afirmar que este cavalo traga alguma idéia de tragédia:
i.      Enquanto os outros 3 cavaleiros provocam calamidades (mortes, fomes, etc.) este texto não diz nada dos desastres da guerra;
ii.    Há no texto uma promessa: “partiu vitorioso”. A idéia de vencer em Apocalipse se refere a Cristo e aos fiéis. Ele saiu vitorioso.
iii.  O branco é sempre o símbolo, (não da vitória militar), mas da salvação, da vida, da pureza, da santidade. Indiscutivelmente, no livro de apocalipse,é sempre símbolo celeste. Pense nos vestidos brancos, a nuvem branca, o trono branco, a pedra branca, etc. Certamente não se trata de uma força antagônica a Deus e a sua santidade.
iv.  Usa uma coroa, símbolo de vida e realeza, exatamente como o Filho do Homem, que na cabeça uma coroa de ouro. (cap.14:14)
v.    Esta coroa lhe foi dada; logo ele não a conquistou, tomou ou açambarcou (vemos aqui a impossibilidade da guerra);
vi.  Tem um arco que é, biblicamente, o símbolo da aliança, não da morte e da violência.
vii. Possui um dualismo bem explícito: parte vitorioso (já é vencedor, a vitória já está conquistada desde o começo, na eternidade), mas ao mesmo tempo para vencer (para realizar, concluir esta vitória, torná-la evidente, manifesta para todos). A idéia do Cristo vencedor perpassa este livro, do início até o fim. Veja 17:14  Não foi assim a encarnação e a morte de Cristo?
viii. Finalmente, podemos encontrar esta mesma descrição numa passagem paralela. Apoc. 19:11. Como imaginar que no mesmo texto simbólico, o autor poderia descrever dois cavalos brancos com seus cavaleiros, dando-lhes duas significações totalmente diferentes? Esta passagem nos diz claramente que o cavaleiro é Cristo. Na sua cabeça há muitos diademas 19:12; e vemos a descrição de um cavaleiro sentado num cavalo branco, vestido com um manto “tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus”. 19:13 Temos que permitir que o próprio livro explique seu simbolismo.
Torna-se evidente que este cavaleiro é a Palavra de Deus. O cavaleiro branco, que é lançado no mundo, o primeiro a agir e sair, é portador da vida e da aliança.
Esta seria a primeira força a agir na História: A Palavra de Deus. Deus sempre falou, foi por meio dsta palavra que as coisas começaram a surgir, por meio desta Palavra é que o caos se fez ordem, Por meio desta palavra é que se estabelece os rumos da História. Por meio desta palavra, Deus constitui reis e desfaz impérios. Esta é a palavra que já “saiu vencendo” e “para vencer”. Ap. 6:2 Hendriksen sugere que no cap. 5:5, aparece o Cordeiro como vencedor e pergunta: “Não é razoável pensar que o “vencedor” é a mesma pessoa?”[1]
Ademais, não se diz nada dos desastres da guerra, apenas que “saiu vitorioso e para vencer”.  Dualismo explícito. Já é vencedor, a  vitória está conquistada desde o começo, na eternidade, mas sai para vencer: para realizar, concluir sua vitória, torná-la evidente. Já e ainda não. O Cordeiro é vencedor desde a eternidade, mas sua vitória é revelada no curso da história humana. Sua vitória se deu na cruz, no meio da história de um povo, dentro de um contexto político e geográfico, e dentro de uma cultura e tempo específico. A vitória da Cruz se revela na história dos homens.
O cavalo branco, 19:11 é a Palavra de Deus, o verbo da vida. O primeiro cavalo é portador da vida e da aliança, é a Palavra de Deus que age e continua a agir no curso da História. Depois deste vem 3 outros, representando aspectos combinados, mas diferentes: potência imaterial, abstrata, mas agindo num nível material e provocando catástrofes, flagelos.

2. Cavalo Vermelho - sangue/fogo.
Depois do cavaleiro branco, aparecem outros três cavalos que representam aspectos combinados, mas ao mesmo tempo diferenciados. “Cada um é, ao mesmo tempo, uma potência imaterial, abstrata, agindo, contudo, num nível material e provocando também flagelos, catástrofes”[1] O segundo selo revela que a História da humanidade é marcada pela violência e a guerra. Existe uma potência espiritual escondida no coração da História marcada pela espada. Este poder é simbolizado aqui pelo cavalo vermelho, um poder secreto e imaterial que também age e determina a História.
As guerras, as revoluções, os conflitos sangrentos sempre existiram e existirão na História humana. Estas guerras mudam a geopolítica do mundo, fazem surgir e desaparecer nações e povos. Escravizam, submetem povos inteiros a um absoluto e mortal silêncio. Nos dias de João, a pax romana era uma paz de cemitério, quem se a ela se opunha, corria o risco de perder a vida. Na etiologia das guerras, diz Tiago, está a ganância. Tiago 4:1ss., quando surge um conflito armado, existem razões humanas, econômicas, políticas e lutas pelo poder por detrás. As guerras são originadas pela insaciabilidade humana de dominar e possuir. Pela ganância dos poderosos.
Pelo contexto do texto, podemos também ver que este cavalo vermelho, sai imediatamente após o cavalo branco, que é a Palavra de Deus, dando-nos a impressão que, à palavra de Deus, se segue a espada, a perseguição religiosa, a provação e fogo contra a Palavra de Deus e àqueles que a seguem. Esta idéia parece se harmonizar com a visão do quinto selo.

Este cavalo vermelho possui duas características:
i.      Poder de tirar a vida – Pode ser uma referência tanto a guerras civis, quanto a guerras internacionais, revoluções, repressões, lutas internacionais, motivadas por fatores pessoais, vaidade, e interesses econômicos. A guerra é uma potência espiritual escondida no coração da História. Apocalipse não a descreve como um poder impessoal, mas como uma realidade espiritual. Isto representa mais que uma decisão humana e fatores políticos, mas como um poder  secreto e imaterial, com uma profunda atividade sobre a raça humana.

ii.    Recebeu a espada - Símbolo de poder, autoridade. É o poder político que faz a guerra. Não se diz quem concede tais poderes, mas as Escrituras nos mostra que Deus encontra-se por detrás de todo movimento histórico, e ele dá permissão para tais poderes agirem. O cavaleiro serve-se desta espada como quer, a mesma espada que é dada para o justo exercício da justiça, serve para a opressão, exploração e guerra. Certamente Deus se serve da guerra para julgar a humanidade cf. Hab. 1:6.

3.    Cavalo negro – Este é o terceiro cavaleiro. Ele mede, pesa, distribui e vende. A balança é o seu símbolo. É a pesagem, a venda, o uso do dinheiro, subtendido. O dinheiro que se paga é o salário de um operário.”um denário”. Salário este capaz de, em situações normais, satisfazer uma pequena família com suas necessidades básicas.  A medida do trigo, porém, é muito pequena, serve apenas para suprir a necessidade de uma pessoa. Era portanto, incapaz de suprir o mínimo necessário para a família. Ou seja, as pessoas trabalham um dia inteiro para terem uma medida de trigo que dá para alimentar somente uma pessoa o dia inteiro. Nestas condições o homem não pode sustentar sua família. Curiosamente: vinho e óleo estão fora do seu poder “Não danifiques o azeite e o vinho”. É difícil explicar isto, provavelmente significa que o poder do cavaleiro é limitado (não importa qual seja o limite), não pode controlar tudo, dominar tudo. Este cavaleiro representa a economia (especialmente valores relacionados a dinheiro). O fator econômico, a vida, a organização econômica (liberal ou dirigida). Surge aqui o flagelo econômico: escassez, pobreza, fome.
Este cavaleiro tem na mão uma balança. Comer pão por peso indica uma condição de dureza econômica, de acordo com Ez.4:10 Não designa uma situação de fome absoluta, mas de escassez, de comida escassa, de racionamento de comida. A escassez é para a pessoa que luta e não tem recursos e que come cada vez menos porque não tem poder aquisitivo, nem o seu trabalho é suficiente para dar sustentar digninamente a sua família e a si mesmo.
Este cavalo significa o poder da economia. Poder este que tem uma dimensão espiritual já que a História das nações é normalmente determinada pelo seu poder econômico. O aspecto financeiro de um país ou de uma região é fator vital para a sua sobrevivência. Normalmente as grandes calamidades, fome, enchentes, normalmente agem contra aqueles que possuem o mínimo e que perdem este mínimo nas tragédias da natureza.

4.    Cavalo Amarelo  - O quarto cavalo é lívido, amarelado, clorótico, símbolo da morte e da peste. São idênticos no pensamento da época. Representa potência ativa da morte e os meios materiais de sua ação, as doenças, feras, calamidades e tragédias. O inferno (hades) recolhe sua obra. “O inferno o estava seguindo” O efeito da ação deste cavaleiro é devastadora. Pode destruir ¼ da terra. Temos alguns exemplos claros na história humana do poder que uma peste tem para dizimar povos. A peste bubônica, a febre amarela e vírus fatais como aids, sem falar da árdua batalha que pesquisadores tem mantido contra o câncer mostram-nos a violência deste cavalo. Felizmente seu poder também é limitado, Deus limita as potências do caos e da destruição, como fez em Gn. 1:2,3ss ao destruir o caos e o vazio. Não pode atingir além da quarta parte da terra.
Estes flagelos não atingem apenas “os maus”, mas alcança igualmente gente inocente e simples, gente fiel e amada de Deus também é vitimada pelos seus feitos. Alcança a todos, manifesta seus efeitos sobre todos. A potência destruidora continua, mas a humanidade ainda sobrevive após o seu efeito devastador, porque O Senhor da história tem as chaves da prisão do inferno e da morte. O poder final não é da dor, do caos e do inferno e só podem agir quando existe uma permissão explícita para que venham. 6:7

O que representam estes quatro cavaleiros?

Todos eles representam potências, poderes, potestades, principados. São forças que agem e interagem no desenrolar da História humana: A Palavra de Deus; (O cavalo branco); As potências da guerra, os poderes políticos (cavalo vermelho); as potências econômicas (O cavalo preto)  e as forças da destruição, tais como tragédias, calamidades e pestes, forças naturais, que na verdade são também agentes sobrenaturais) (cavalo amarelo). As mesmas forças que operam em todas épocas e em todos os regimes. Não dá para eliminar uma coisa ou outra, Suprimir uma ou outra seria negar os mecanismos que movimentam a própria História.
Esta é a proposta básica deste texto, de acordo com Ellul. A trama da História é tecida com estas 4 forças em movimentos sempre renovados, sempre presentes, sempre em ação. A História humana é feita pelo envolvimento e mutualidade destes quatro elementos ativos. Não é uma combinação estável e constante. A História não é uma série de acasos, probabilidades, atos fortuitos, acontecimentos inesperados e surpreendentes, mas também não tem uma combinação racional, matemática e rigorosa de um certo número de fatores determinados e coerentes. Não existe casualidade explícita de sistema da História. Estes 4 cavalos percorrem a terra, aparecendo ora num ponto, ora noutro. Não podemos captar uma lógica no seu galope e por isso podemos ter a impressão de que se trata de um acaso. Mas não há acaso na História, há forças que agem regidas por um propósito maior. O acaso é apenas uma percepção pálida e distorcida que temos dos fatos. A combinação entre as 4 forças, com sua diversidade de ação, numa duração indeterminada, produz um grande número de figuras que podemos ter a impressão de um acaso. Não existe, contudo, casualidade rígida.
No meio da História surgem estes cavaleiros, de forma não previsível, os cavalos surgem correndo, a galope, surgindo e desaparecendo e passam transtornando nossas vidas e nossa compreensão da sociedade e da História. São as forças sem as quais não haveria História. E a História depende deles. Todos os acontecimentos e fatos podem ser analisados em torno destes 4 cavalos e seus cavaleiros: A palavra de Deus, a guerra e luta pelo poder, as transições econômicas marcadas sucessivamente pela escassez e pela abundância, as enfermidades e pestes, que surgem do nada, poderes incontroláveis, vírus desconhecidos e pavorosos: Aids, Émola, peste amarela e peste negra são alguns exemplos. Estes cavaleiros são sempre os mesmos, na sua correria desenfreada. O jogo de forças permanece o mesmo, com roupagens atualizadas. Às vezes encontramos o cavalo vermelho em um lugar, ora ele desaparece de uma região, depois afasta-se e surge em outro lugar.
Quando surgem as guerras, sabemos que existem fatores humanos que desencadeiam tais ações, como a ambição, o ódio, espírito de poder, prestígio, glória, cobiça, e não queremos retirar do homem sua responsabilidade moral sobre a História humana. Mas este texto também aponta para o fato de apesar de tudo ser do homem, o homem não decide nunca. “Qual dentre os homens tem poder sobre a morte?”  Qual governo, por mais poderoso que seja pode impedir o avanço do vento? Napoleão Bonaparte, no auge de seu sucesso e de suas conquistas, viu o seu exército sendo dizimado, quando marchava em direção a Rússia, não pelo exército inimigo, mas por uma nevasca de proporções gigantescas. Alexandre o Grande, morreu de uma simples febre, as 34 anos de idade, depois de conquistas épicas. Tudo é responsabilidade do homem, mas tudo lhe escapa do seu domínio. Existem forças, potências, energias, os poderosos cavaleiros se movimentam neste volver histórico trazendo suas conquistas e fazendo suas vítimas. Tudo se passa como se estivéssemos diante de uma determinação superior, de uma força irresistível. Nenhum homem pode fazer mais nada quando estas forças, para além dele mesmo se movimentam. Os homens são os agentes, mas muitas vezes apenas os instrumentos. Existem forças que estão além deles mesmos.

Deus enviou juízo sobre o povo de Israel e sobre muitas outras nações conforme nos revela o Velho Testamento. Pestes, guerras e catástrofes são elementos muitas vezes associados na Bíblia a julgamentos de Deus sobre uma nação. Por exemplo, Deus enviou castigo sobre Joás por ter mandado matar o profeta Zacarias. E neste caso, o castigo foi o exército da Síria,  (a espada : cavalo vermelho). Assim diz a Palavra: “Assim executaram os siros, os juízos de Deus contra Joás” II Cr. 24:24. Esta guerra, aparentemente tinha motivos meramente humanos, mas por detrás dela, este cavalo vermelho sai para agir, quando o Cordeiro o libera para executar os juízos de Deus e realizar os propósitos divinos.

Porém estas quatro forças são em número limitado. Há quatro e somente quatro. Toda a História é feita da mistura destes agentes, destas potências assustadores e fora de controle dos homens. Ezequiel nos fala da espada, fome e peste como agentes de Deus (6:11,39; 7:15-39); Zacarias diz que os cavalos são portadores da cólera de Deus. 6:1. Também são estes três flagelos que Deus oferece a Davi, como opção pelo seu pecado: 3 meses de espada (elementos ativos por intermédio dos homens); 3 dias de peste ou 3 anos de  fome (que agem por si mesmos). Estes elementos são “forças da História”, l e a expressão dos julgamentos de Deus, são castigos divinos do pecado do homem. São homens que fazem a guerra, que oprimem, mas ao mesmo tempo é a cólera de Deus que se exprime na História, fazendo-a assim, História de Deus.
Marx falava do agentes de produção, dos seres humanos coisificados e manipulados  e resolve anunciar aos homens que construam sua própria História, e neste ponto, precisamos considerar o que Marx está dizendo, mas ao mesmo tempo, este texto afirma que as relações de produção e as forças de produção escapam na sua maioria ao controle dos homens. Há forças do mal que são “desencadeadas”. Os julgamentos de Deus se inserem ao longo de toda História, e não apenas no fim.
A novidade deste texto de apocalipse é que a ação destes 4 cavaleiros é desencadeada pela abertura dos 4 primeiros selos, efetuada pelo Cordeiro. Quem abre os selos? O Cordeiro. Em última instância, É Jesus Cristo o senhor desses desencadeamentos, e o agente primeiro, a causa fundante dos movimentos da História. O Cordeiro que foi morto, não o Cristo triunfante e juiz, justamente aquele que sofreu o peso do galope dos cavalos, esmagados pela justiça dos homens e pela brutalidade e violência dos maus. Este Cordeiro é o que controla os flagelos, os evoca, os libera, o que os anuncia. O Cordeiro revela, torna manifesta a ação destas forças a-históricas (ainda que profundamente históricas), e a-temporais (ainda que profundamente envolvidas na historicidade humana). O Cordeiro abre os selos que permite ler o interior do livro e ver as forças que movimentam a História. Revela quais são as forças componentes da História e foi na sua própria morte que esta revelação se efetuou.
Outro detalhe ainda impressionante no texto, é que estas forças destruidoras não agem sozinhas. A História não é feita apenas pelos três cavaleiros: preto, vermelho e amarelo. A História é também palco da manifestação da Palavra de Deus. Existe antes de tudo, a manifestação da Palavra viva de Deus. No curso, no coração, na essência da História humana, no trama, no desenrolar desta História, existe a Palavra. A palavra de Deus está no âmago dos acontecimentos e da História. Esta Palavra representa tudo aquilo que contribui para a glória de Deus, todo amor que torna Deus presente no meio dos homens, tudo o que mantém a vida contra a morte, que torna Deus presente no meio dos homens. É no meio da guerra que a Palavra de Deus se revela na ação dos seus agentes, que curam, que restauram as feridas, homens que se dão no resgate daqueles que são vitimados pelas potências econômicas na busca por mais poder  e riqueza; é no meio das tragédias humanas e da peste, que surgem pessoas fundadas na Palavra de Deus e no Deus da Palavra, é no meio da fome que surgem agentes de Deus, se levantam, revelando o amor de Deus aos necessitados. A palavra de Deus é tudo aquilo que faz brilhar e dá alegria, tudo o que é verdadeiro poder ( a coroa) contra a violência estabelecida (a espada); tudo o que é abundância e pacto (o arco), contra o que é fome (a balança). Esta palavra de Deus também se faz História com os outros. Por isso, se não há progresso do reino de Deus como nós esperamos e desejamos, também não há vitória completa do inferno, que se segue ao cavaleiro chamado Morte (6:8).

Por fim, não haverá triunfo da morte, porque a esse cavaleiro branco está prometida a vitória final, sendo ele a própria vitória. A vitória é do cavalo branco, que “saiu vencedor e para vencer”.
Há uma espécie de dialética na Bíblia entre estas potências que se combinam. Se este cavaleiro branco fôsse a morte, não haveria nada a se opor. Todos os cavaleiros estariam na mesma linha, não haveria um movimento de ação oposta entre eles. Não seriam, portanto, as forças da História. Para que haja História é necessário que haja um processo dialético. A nossa dialética passa-se entre a História e a supra História, entre as potências históricas e a potência meta-histórica que se torna histórica.


O contraponto da guerra, da fome e da peste é o cavalo branco. Enquanto a História não chega ao seu desfecho, ainda não somos capazes de vislumbrar todo o seu domínio.  Sua História só será plenamente compreensível, sendo vista retrospectivamente, a partir do fim. É vendo o fim da história que entendemos o momento histórico que vivemos. A história contém um bloco com começo, meio e fim. Jesus é aquele que era, que é e que há de vir. A Bíblia nos mostra a história não numa perspectiva cíclica, repleta de acasos, mas num movimento ascensional, com princípio, meio e fim. A história tem propósito, tem teleologia, possui significado e significante. 

Ap 6.9-11 O Desenrolar da História


 “O quinto selo é o quinto componente da História”[1]

Com esta frase, Ellul vê neste selo, não uma descontinuidade com o grupo definido de quatro cavalos. Para ele, o clamor dos mártires não é um elemento solto, desconexo, que se situa noutro plano e noutro nível, antes algo bem concatenado e relacionado. Para ele, o quinto selo é parte integrante da história.  “A oração dos mártires é um fator decisivo(…) Podemos conceber a história independentemente da ação espiritual provocada pela oração e pelo testemunho?[2]
A oração destes mártires, homens que deram suas vidas pelo testemunho do Evangelho, torna-se um elemento vital no processo da história, por esta razão, torna-se um dos selos que determinam o sentido da história. Sua ação parece acelerar o curso da história, seus movimentos.
A oração é uma das forças motrizes da história. Esta é uma das bases e uma das razões pelas quais a igreja deve orar. Orações dos justos, e especialmente dos mártires, desencadeiam reações nos céus. Ap. 5:8; 8:3-6. O clamor e as orações do povo de Deus trazem o juízo de Deus, o acerto de contas. O Cordeiro revela sua ira contra todos aqueles que se opuseram ao testemunho da verdade. O texto revela que este juízo segue em duas direções, que são reveladas no sexto selo.

1.   Tragédias sobre a natureza  - Após o clamor dos mártires, várias manifestações se dão na terra: Um grande terremoto, o sol se enegrecendo, a lua se transformando como em sangue, as estrelas caindo por terra e o céu se recolhendo como um pergaminho.

2.   A reação dos homens diante do juízo – Seguindo-se às orações dos mártires e às tragédias, é-nos revelado a reação pavorosa e angustiante dos homens, que já não temem a morte, mas algo mais pavoroso que a própria morte, isto é, o Grande dia da ira do Cordeiro.

Estas testemunhas são o pivô da história, e elas pedem que o tempo desta história seja acelerado, mas Deus lhes responde que elas continuem em repouso, até que seu número seja completo, isto é, até que o testemunho da Palavra seja totalmente realizado no mundo. 6.11

O que representam estes mártires que dão testemunho?
A testemunha é sempre aquela que é chamada a depor numa determinada situação. Ela vem de fora dos tribunais, para relatar o que presenciou. A testemunha é o fiador de alguma coisa. A testemunha de um crime é alguém que viu algo, ouviu algo, ou sabe de algo relacionado a este fato e pode relatar isto. A testemunha revela fatos, traz a tona fatos desconhecidos, mostra aspectos não percebidos, traz um fato inesperado e modifica o processo.
Aqui, há quatro cavalos e as testemunhas que aparecem, que intervém. As testemunhas apesar de não serem um elemento de dentro das forças, serve de ligação para o inexplicável, desconhecido, novo.
A testemunha é alguém que denuncia a força dos poderosos, a força destes cavalos implacáveis. A testemunha não entra em nenhum jogo, nem político nem econômico, como aponta Ellul, mas exprime o que está no exterior, atualizando o fato, tornando-o atual e presente. Este quinto selo é aquele que rompe o autoritarismo e dá lugar para a verdade e a liberdade se expressarem. Ellul afirma que o quinto selo é a liberdade do homem, de ser aquilo que Deus quis que ele fosse, e que mesmo em meio a ameaças e à própria morte, não deixa de se revelar, de dizer o que aconteceu, de mostrar as verdades.

Este texto suscita algumas questões teológicas, vamos nos deter rapidamente nelas, para em seguida, dar o desfecho do simbolismo deste quinto selo.

Os problemas do texto:
i.     O destino final dos mortos - Segundo os judeus do séc. I a.C, as almas dos justos são guardadas sobre o trono da glória divina, encontrando-se num estado intermediário, da espera (Na teologia judaica mais antiga, após a morte existia o aniquilamento, a pessoa simplesmente deixava de existir). Deste texto vão surgir muitas heresias, sobre a imortalidade da alma afirmando que existe uma vida intermediária no limbo, ou num salão de espera para se ingressar no céu. Este conceito influenciou profundamente a teologia do adventismo do sétimo dia, que é fortemente judaica (com o conceito do sábado, por exemplo).[3] Vários textos nas Escrituras falam dos crentes gozando uma vida de comunhão com Deus imediatamente após a morte. (ver nota de rodapé).
ii.   O desejo de vingança dos mártires - O julgamento que o mundo pronunciou contra estes mártires é o julgamento que o mundo faz de si mesmo. A acusação deles se torna o seu próprio veredicto. Os mártires não desejam uma vingança pessoal, não reclamam a sua própria dor. O que importa para os mártires é o triunfo da justiça de Deus, quando o mal será vencido. Para Ellul, este mal não é apenas a transgressão de preceitos morais, mas de realidades muito mais fundamentais: da ruptura com Deus, ao condenarem a testemunha da sua Palavra; e do mal que é feito aos homens, a prova é a condenação à morte destes homens[4]. É um mal com dupla face, já que tem a ver com a iniqüidade do homem e sua atitude em rejeitar o testemunho de Deus, e a sua perversão em apagar a vida daqueles que dão testemunho da presença de Deus na terra. A vingança que se busca aqui é da condenação definitiva do mal e do estabelecimento de uma presença que exerça a justiça na terra.
iii. O número dos conservos a serem mortos - Como explicar Esta idéia? O conceito aqui é de que a igreja de Cristo sempre terá os seus mártires. O Século XX é o século no qual foram executados mais mártires na história. Os historiadores cristãos admitem que mais mártires morreram neste século que todos os mártires dos outros séculos colocados juntos. O comunismo com sua cortina de ferro na Rússia e a cortina de bambu, na China executou milhares de irmãos. Muitos cristãos têm sido perseguidos e martirizados por guerrilhas, outros tantos debaixo de regimes islâmicos. São muitos os que ainda morrem por testemunharem a Palavra de Deus. O Número de mártires ainda não se completou, outros ainda virão, até o fim.

As orações dos mártires são poderosas forças da história. O seu clamor e suas orações têm um efeito profundo diante do trono de Deus. E o clamor de seu sangue chega ao altar do Senhor, movimentando aquele que está centrado no trono, do qual procedem todas as decisões. O clamor dos mártires chega a Deus, que tem o poder da história, que é o Senhor da história.

Debaixo do altar:
Onde se encontram estes mártires? “debaixo do altar”. A alma daqueles que foram martirizados, encontram-se debaixo do altar, isto quer dizer que o sangue destes homens foi derramado no altar como uma oferta e um sacrifício a Deus.
No tempo dos Macabeus, os judeus sofreram tremendamente por sua fé. Conta-nos a história que uma mulher, mãe de 7 filhos foi ameaçada de morte pela sua inflexibilidade e lealdade aos ensinamentos judaicos. Quando ameaçaram seus filhos ela não retrocedeu, ela lhes disse que Abraão não se recusara em oferecer Isaque e quando seus filhos chegassem ao céu eles poderiam dizer a Abraão que ele tinha construído um altar de sacrifício, mas sua família tinha construído sete.[5] Quando Inácio de Antioquia foi levado a Roma para ser queimado, sua oração é que ele fosse para Deus um sacrifício agradável.[6]

Conclusão: O valor do martírio para Deus:
Bonhoeffer, um dos mais conhecidos mártires cristãos de nosso século, que se opôs fortemente ao sistema do III Reich, era um pastor e teólogo, que foi executado, uma semana antes da queda de Hitler, diz:  “O sofrimento mesmo o mais oculto que lhes for causado, tem a promessa de um dia vir à luz para juízo dos perseguidores e para glorificação dos mensageiros. Igualmente o testemunho dos mensageiros não permanecerá na obscuridade, mas virá a público”. [7]
Uma das cenas mais marcantes da história da Igreja Cristã é a morte de Ridley, um reformador Inglês, e seu discípulo, Latimer. Na hora da morte, em agonia, o discípulo volta-se para seu mestre, sendo queimado junto e diz: “Coragem mestre Ridley, acenderemos neste dia uma luz tão grande na Inglaterra, pela graça de Deus, que ninguém poderá apagar”. O historiador Nichols afirma. “Isto foi realmente uma profecia. A maioria dos ingleses rejeitou esta forma de religião que oferecia semelhantes espetáculos de selvageria, em nome de Cristo. A Inglaterra tornou-se consideravelmente muito mais protestante, após a morte da rainha Maria”. [8]




[1]  Ellul, Jacques - Apocalipse, arquitetura em movimento, São Paulo, ed. Paulinas, 1979, pg. 172
[2]  Ellul, (1979) op. Cit. Pg. 172,173
[3]  Sobre o destino dos mortos:
(a) -  O termo “sono” usado após a morte, seria um eufemismo, podendo ser uma afirmação de consolo para suavizar a dor, mais que uma declaração doutrinária. A morte é vista como descanso dos afazeres terrenos.
                (b) - Vários textos nas Escrituras falam dos crentes gozando uma vida de comunhão com Deus imediatamente após a morte: Lc. 16:19-31; 23:43;  II Co. 5:8; Fp. 1:23; Ap. 6:9; 7:9; 20:4; At. 7:59
                (c) - O dia do juízo não é necessário para se chegar à decisão final, pode ser usado apenas como o anúncio de um veredicto, ou, o anúncio solene da sentença.
(d)  - Ler II Co. 12:4
A posição reformada é a seguinte:
a)- Jesus afirma para o ladrão na cruz, que naquele mesmo dia encontrar-se-ia com ele; Lc. 23:43
                b)- Após a morte de Lázaro e o homem rico da parábola, ambos experimentaram uma realidade imediata e permanente na existência - Lc. 16:19-31
                c)- Estevão, na sua morte vê o Filho de Deus à direita do Pai, e entrega o seu espírito ao Filho - At.7:54-60
                d)- Paulo via a morte como o caminho para o encontro imediato com Cristo- Fp. 1:23


[4] .Ellul (1979) op. Cit. 173
[5]  Barclay, William - The Revelation of John, II, Edinburgh, The Saint Andrew Press, 2a. Edição, 1962, pg. 13.
[6] Barclay, (1962), op. Cit. 14
[7] Bonhoeffer, Dietrich - Discipulado . São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1980, pg. 132
[8] . Nichols, Roberto Hasting – História da Igreja Cristã, Casa Editora Presbiteriana, S. Paulo, 1978, pg. 177.

Ap 3.7-13: Filadélfia: Igreja com Portas abertas!


Um dos maiores obstáculos para o avanço missionário da Igreja de Cristo são as portas fechadas, barreiras históricas, políticas e culturais que o povo de Deus, ao obedecer ao mandato de evangelizar e fazer discípulos de todas as nações encontra pela frente. Missionários no mundo inteiro tem encontrado oposição quando tentam fazer a obra de Deus avançar. Plantadores de igrejas passam por enormes pressões para estabelecer a obra do Senhor. Missionários passam por profundas depressões e muitas vezes sérios problemas familiares surgem durante a realização da obra. Quando Simonton, o primeiro missionário presbiteriano chegou ao Brasil em 12 de Agosto de 1859, saindo de Pitisburgh, PA além de encontrar enormes barreiras com a língua e a cultura, viu sua esposa e sua filha morrerem em menos de 5 anos, e ele mesmo morreu após 8 anos no Brasil.

Quais são as fontes dos obstáculos que costumeiramente encontramos na expansão do Evangelho?

Uma das primeiras barreiras que o evangelho encontra é a própria barreira cultural e espiritual do povo à mensagem. Muitas portas são fechadas pela ação dos homens.

Encontramos vários exemplos na Bíblia: Um dos exemplos clássicos é a tentativa de implantação de uma Igreja em Icônio. At 14.1-7 Nesta cidade, os apóstolos não puderam continuar a obra e tiveram que se deslocar para as cidades de Derbe Listra e Licaônia por causa do forte sistema estrutural com que se depararam. As pessoas se mostraram abertas ao Evangelho, mas a oposição leva-os a não se estabelecer naquele lugar. Os judeus e as autoridades fecharam as portas para que a igreja fosse firmada ali naquela cidade. Poderes políticos e religiosos se associaram, a cidade se dividiu e para preservar a vida tiveram que se deslocar para as cidades vizinhas.
O livro de Atos está repleto de relatos que demonstram a oposição humana ao Evangelho. Os missionários (apóstolos) são fustigados, açoitados e espoliados em quase todas narrativas. Assim como aconteceu no mundo antigo, tem sido nos dias atuais. O Evangelho continua sendo rejeitado nos nossos dias. A cruz, com sua mensagem de salvação tem sido hostilizada mesmo em países considerados cristãos. Apesar desta humana objeção ao evangelho da graça, assim como em Icônio veio a crer grande multidão, ainda hoje muitos tem aceitado a velha e grande mensagem de salvação. Evangelização encontra muita resistência espiritual, e a Igreja precisa orar de forma mais objetiva pelo avanço do Evangelho.

A Igreja sempre encontra oposição, e portas continuam fechadas pela oposição do diabo. A obra missionária da Igreja é fechada por atitudes satânicas. Na carta a Tessalônica, Paulo afirma “Satanás nos barrou o caminho”.  1 Ts 2.18 O Livro de Apocalipse nos revela que muitos fenômenos políticos e históricos, aparentemente humanos, são realizados por poderes malignos. Ap17.12, 13 Neste texto vemos de forma clara que existe um movimento de interação entre estruturas humanas históricas e ações demoníacas. Os 10 reis recebem autoridade da besta, ou seja, tronos que são conquistadas por atos demoníacos, e que são colocados em tais postos estratégicos pelo diabo, para promoverem o avanço do império das trevas e se oporem ao evangelho. Por esta razão, em contrapartida, estes reis querem usar todos artifícios políticos para “oferecer à besta, o poder e a autoridade que possuem”. Ou seja, seus atos políticos são elaborados com o objetivo de se opor à obra de Deus no mundo e fazer avançar os domínios e o campo das ações malignas.

Em outros lugares, porém, o Espírito escancara as portas, O Evangelho cresce e se multiplica com naturalidade. Neste texto, ao enviar esta carta à igreja de Filadélfia, o Senhor da igreja, Jesus, afirma que “tinha posto diante da Igreja uma porta aberta, que ninguém poderia fechar”. 3.7. O que significam estas “portas abertas?”. Por que as portas estão abertas num determinado lugar e fechadas em outras? Por que um determinado campo é mais abundante que outros? Por que Esmirna e Pérgamo sofrem tanto enquanto Filadélfia encontra as portas escancaradas?

Certamente nunca poderemos entender a forma espontânea e natural com que o Espírito trabalha. O vento sopra onde quer. Nem sempre é fácil descobrir como utilizar este movimento de Deus na obra da expansão missionária. Warren propõe que, por ser a obra de crescimento da igreja uma obra espiritual, precisamos entender que “somente Deus pode criar ondas, sejam elas de avivamento, de crescimento ou de receptividade espiritual”, e que “não é nossa responsabilidade criar ondas, mas sim reconhecer como Deus está atuando no mundo e unir-se a Ele nesta jornada”. [1]

Pelo fato da igreja de Filadélfia encontrar tais portas abertas, é importante detectar elementos que Deus usa, de acordo com este texto, para que o evangelho penetre numa sociedade e para que suas portas jamais se fechem. Segundo a descrição do texto, a igreja de portas abertas tem pelo menos uma característica inegociável: 

Ela guarda a Palavra do Senhor e não nega seu nome. (Ap 3.8)
Este é um sinal vital que nos é descrito no texto acerca desta igreja. “Tens pouca força, mas guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome”. 3:8. 

Uma das barreiras mais prejudiciais na vida da igreja é a perda da paixão pela palavra. Quando a Palavra de Deus é relativizada, adulterada e negada, este é um dos maiores obstáculos para impedir o avanço da Igreja é o fato dela não guardar a Palavra do Senhor.

O poder político ou financeiro não mantém as portas abertas de uma igreja aberta, sua fidelidade à Palavra, sim. Nada pode destruir a igreja: Nem forças políticas, nem ausência de recursos financeiros, e nem mesmo o diabo, mas a igreja pode destruir a sia mesma quando não guarda a Palavra.

A Igreja de Filadélfia é frágil do ponto de vista humano. “Tens pouca força, entretanto…” (Ap 3.8) 

Esta Igreja é um bom exemplo de comunidades aparentemente despreparadas e que pensam que pouco podem fazer para o reino de Deus, mas que se tornam extremamente relevantes para o avanço da mensagem. Comunidades aparentemente impotentes aprendem a depender do Senhor e da sua Palavra e a se submeter à dependência do Espírito Santo. Muitas vezes aqueles que tem poder financeiro, técnica, ciência e número se esquecem do poder da fidelidade e do amor à palavra de Deus.

De 1996-2003 vivi numa das áreas mais secularizadas do mundo, apesar dos EUA serem considerado um país cristão. Estatísticas revelam não mais que 1% de nascidos de novo em Cambridge, MA. Muitas igrejas ainda não estão fechadas, mas se fecharem suas portas, não farão a mínima diferença na sua cidade. Uma das igrejas vizinhas a nossa, tem um templo com capacidade para acolher 1200 pessoas, uma verdadeira catedral, atualmente consta no seu rol de membros apenas 23 idosos. Cerca de um quilômetro de nosso templo, existe uma comunidade cuja pastora é declaradamente lésbica. Outro templo transformou-se num condomínio luxuoso, que é o retrato de muitas igrejas da Nova Inglaterra: O Departamento histórico da cidade impediu que o templo fosse demolido, mas permitiu que fosse transformado em condomínio, isto é, manteve-se a fachada, mas no seu interior tudo é secularizado.

Um dos fatores visíveis, que levou tais igrejas a perderem sua relevância e a terem suas portas se fechando foi a perda da ortodoxia. Perderam a paixão pela Palavra de Deus. A Bíblia passou a ser vista como um livro carregado de símbolos e mitos, e que precisava ser re-interpretado.

A Igreja de Filadélfia tinha pouca força, mas “guardou a Palavra”de Jesus. Este é um dos fatores cruciais e marcantes em igrejas de portas abertas: elas não abrem mão da autoridade da palavra e não negociam as verdades do evangelho.

O que acontece a Igreja quando a igreja tem as portas abertas?

1.     Ela é vitoriosa. Ninguém pode barrar seu caminho (Ap 3.89  A Igreja de portas abertas, vê as possibilidades do evangelho e crê que, no poder do Espírito, a palavra de Deus vai avançar. 

Ela obedece ao mandato evangelístico dado por Jesus aos seus discípulos, “Ide por todo mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16.15), e avança segundo suas ordens. Ela crê que a mensagem é para todas as criaturas, sabe do alcance e poder do evangelho e vive na perspectiva de sua missão. Avança pela fé, e quando o faz descobre na sua prática ministerial, que “os campos já branquejam para a ceifa”. As portas estão abertas, este é tempo de oportunidade e de salvação para o mundo. A Igreja só para quando perde a consciência de sua missão, de sua vocação, de sua chamada, e de seu ardor missionário.

Num antigo clássico devocional sobre o Pentecostes, escrito por E. Stanley Jones ele afirma que os discípulos estavam, em Jo 20.19, “com as portas trancadas, com medo dos judeus”. A igreja estava tentado proteger a mensagem, ao invés de proclamá-la, por medo de que ela pudesse ser destruída, entretanto: “Há um só refúgio na vida, e este encontra-se na verdade e na realidade. Se nossa fé pode ser destruída, quanto mais cedo isto acontecer, melhor será”[2] A Igreja de portas abertas, conclui ele, é aquela que contagia espiritualidade, e que transmitem aos outros, pelo contágio, o seu Deus.

Um dos hinos clássicos da hinologia protestante é Castelo Forte, escrito pelo reformador Martinho Lutero:
Se nos quisessem devorar, demônios não contados,
Não poderiam dominar, nem ver-nos assustados,
O príncipe do mal, com seu plano infernal,
Já condenado está, vencido cairá, Por uma só palavra”.

O que faz a igreja avançar é o reconhecimento de que as portas estão abertas pelo seu Deus, pois o seu Filho tem a chave de Davi nas mãos, que abre e ninguém fecha e fecha e ninguém abre. Esta igreja avança e cumpre sua missão. Jesus afirma que ele tem as chaves da morte e do inferno. Normalmente pensamos que quem tem o poder da morte é o diabo, e que quem guarda o inferno é o diabo, mas Jesus afirma que é ele quem tem as chaves do inferno em suas mãos, e ao comissionar sua igreja afirmou que “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

2. A Igreja de portas abertas, mesmo em meio a grandes perseguições, mesmo com toda a fragilidade que tem, vai ver a oposição se rendendo à autoridade que Cristo lhe concedeu. Veja o que está relatado no 3.9. “Eis que farei que alguns que são da sinagoga de satanás… eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e reconhecer que eu te amei”. Jesus afirma que aqueles que mentem contra a igreja e a acusam, virão e prostrar-se-ão diante da igreja, humildemente, reconhecendo o erro de seus julgamentos, sabendo que Jesus ama a sua igreja verdadeiramente. A igreja de portas abertas vai triunfar sobre a oposição e vai ver a obra de Deus sendo reconhecida.

3. A Igreja de portas abertas é firme no tempo da provação (Ap 3.10) O fato de ser fiel não a isenta de perseguição e tribulação. Historicamente, provações nunca foram barreiras suficientes para fazer o evangelho deixar de avançar, pelo contrário, normalmente a igreja avança mais e mais à medida que é provada. A igreja de Cristo costuma ser profundamente fortalecida na medida que se mantém firme em tempos de dificuldades. Provação tem o poder de nos tornar sólidos, de testar nossa fé, de nos fazer firmes. Veja este depoimento de Nancy Mankins, esposa do missionário, David Mankins da Missão Novas Tribos seqüestrado por guerrilheiros colombianos em 1997, cujas suspeitas são de que os mesmos já foram executados.

"Desde que isso aconteceu, eu tenho lido as escrituras sob uma nova luz e a minha fé tem elastecido tremendamente. Tenho aprendido que Deus necessariamente não tem que
nos dizer que ele irá nos livrar de certas situações, mas ele será a nossa força
em tempos como esses."
                                 
2.     As portas da igreja são sempre e invariavelmente, abertas por Jesus. Aquele que tem a chave de Davi, que fecha e ninguém abre e que abre e ninguém fecha (Ap 3.7) -  Aqui mais uma vez, retomamos uma das mensagens centrais de Apocalipse que é a autoridade do Filho de Deus, e o seu domínio sobre todas as coisas, visíveis e invisíveis. Ele é o Rei dos Reis, Senhor dos Senhores. Ele tem as chaves da morte e do inferno. Somente ele pode abrir e fechar. Ninguém mais.

No capítulo 5, temos a visão do livro selado, escrito por dentro e por fora, ninguém pode abrir este livro, nem mesmo olhar para ele, e João afirma que ele chorou muito ao ver a situação de absoluta impotência da raça humana. Ninguém: Nenhum poderoso, nenhum militar, nenhum místico, nenhum religioso, nenhum intelectual, nenhum milionário, ninguém podia abrir o livro. Todavia, um dos anciãos lhe diz: “Não chores; eis que o Leão da Tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos”. Ap 5.1-5 Toda esperança da humanidade, da raça humana, da igreja, de todos os povos, está sobre Jesus.

É Jesus, o Senhor da igreja, que abre e fecha portas missionárias. Dentro do seu soberano propósito executa seus planos. Não estamos construindo igrejas para nós mesmos, nem projetos e impérios para nossa própria glória. A obra é de Jesus. E ele afirma que “as portas do inferno não prevalecerão contra sua igreja” (Mt 16.18)

O texto conclui, fazendo algumas advertências finais àquela igreja. Eis algumas delas:

1.   Venho sem demora - (Ap 3.11) Quase sempre a igreja está desatenta. Muitas vezes nos esquecemos da volta do Senhor Jesus. Nos esquecemos que somos peregrinos e passageiros sobre esta terra. Mas a promessa do Senhor Jesus é. “Venho sem demora!” Muitos, porém, tem considerado demorada a vinda do Senhor. Ele, porém diz, “Venho sem demora!”.

2.   Conserva o que tens - (Ap 3.11) Temos o nome de Jesus, temos a garantia de que as portas serão abertas por aquele que abre e ninguém fecha e fecha ninguém abre. Temos a Palavra de Jesus, temos o nome de Jesus. A atmosfera destas cartas é pratica, pastoral e pessoal. Conserve isto!

3.   Lembra-te das recompensas - (Ap 3.12) Duas promessas são feitas aos que amam a sua palavra.

i.     Tornar-se-ão colunas no santuário de Deus - 3.12 A cidade de Filadélfia já tinha passado por vários terremotos, obras monumentais foram destruídas. Este texto, contudo assegura, que nenhum terremoto poderá destruir a aqueles que se tornaram colunas na cidade celestial. Porque aqueles que foram feitos colunas no santuário de Deus, “daí jamais sairão” Aleluia!

ii.    Verão sobre eles o nome de Deus, da nova Jerusalém e o nome de Jesus - 3.12 Três nomes serão gravados sobre os que amam o Senhor e se conservam firmes. O primeiro reflete a identidade (o sobrenome) que revela a quem você pertence, o Segundo, a nova Jerusalém, revela a cidade a qual você pertence; o terceiro, o nome de Jesus, revela quem está por detrás desta grande realidade.




[1] . Warren, Rick – A Igreja com propósitos. São Paulo, Ed. Vida, 1997, pg. 18
[2] . Jones, E. Stanley – O Cristo de todos os caminhos, São Paulo, Editora Metodista, 1968, pg. 28