segunda-feira, 12 de setembro de 2011

PV 14.4 A Benção da confusão

Introdução:Hoje gostaria de falar da benção da confusão, embora o termo “confusão” esteja sempre ligado a algo ruim e seja um termo um tanto quanto ambíguo, daí a Bíblia falar que “Deus não é Deus de confusão”. Quero usar de uma licença poética, ou retórica, como preferirem, para falar desta idéia que me ocorreu quando lia o livro “Sob uma planta previsível” de Eugene Peterson, quando ele, indagado por um grupo de estudantes de teologia sobre o que mais o fascinava no ministério, respondeu quase impulsivamente: “Bagunça!” embora afirme, que ele mesmo não goste das coisas desorganizadas, mas admite que muitas vezes, a maior benção da vida é a desestrutura que Deus pode criar em nossos corações.
Pv 14.4 afirma: “Não havendo bois, o celeiro fica limpo, mas pela força dos bois, há abundância de colheitas”. Temos a grande tentação do conforto, do hedonismo e do bem estar.
Este texto nos traz uma alegoria interessante. O celeiro é sempre organizado quando não temos movimento dentro dele. Igrejas são sempre organizadas, quando não existe nada acontecendo. Parece que, muitas vezes, organização tira o dinamismo das organizações, instituições e igrejas. Se quisermos ordem, basta não colocar os bois para se movimentar, mas, como conseqüência, não teremos abundância de colheita.
Plantar desorganiza, desestrutura, gera “bagunça”. Temos que mexer a terra, organizar o adubo, colocar o arado na plantação. Nossos pés vão se enlamear, o celeiro passará por uma crise organizacional. Assim Deus faz conosco, tira-nos do nosso conforto, colocando desafios para nos incomodar, para nos mexermos, para produzirmos aquilo que ele deseja para o seu reino. Agostinho afirmou: “Quando Deus se agita, o homem se levanta”.
Fico pensando na vida dos homens de Deus. Considere o exemplo de Moisés. Ele tem uma vida muito organizada: convivência com grandes banquetes e festas, encontro com diplomatas, príncipes e governadores. Egito era a maior potência do mundo de então. De repente seu mundo se encontra “upside down”. Vai para o deserto, como fugitivo, tentar encontrar uma nova forma de sobrevivência. Ele não conhecia o calor do deserto, nem as agruras dos escravos, nem o que significava lutar por sobrevivência. Agora, no entanto, encontra-se ali, tentando se encontrar.
Finalmente sua vida se estabiliza. Encontra acolhida no meio de um povo nômade, com costumes e deuses diferentes, fica por ali, vai se enturmando, casa com a filha do sacerdote daquele povo, aprende a cuidar de ovelhas, passa a viver uma vida prá lá de pacata. Parece que nada de mais interessante vai acontecer na sua história, até que, um fenômeno anormal, uma planta pegando fogo no deserto sem se queimar, faz emergir uma vocação divina.
Novamente vamos encontrar Moisés fora do seu universo, depois de 40 anos... outra vez o celeiro vai se desorganizar para produzir abundante colheita.

Por que é importante mexer com os bois do celeiro e sair de nossa zona de conforto?

1. “Confusão” é o processo de Deus na nossa vida. Maria vivia uma vida de devoção e piedade. Não há nada de extraordinário nisto. Muitas foram as pessoas anônimas da história que viveram desta forma. Era uma moça pobre da Palestina, estava noiva de um rapaz conhecido da família. Sua história seria o casamento com este rapaz, ter uma pequena casinha em Nazaré, criar filhos, ver seu esposo ensinando sua vocação aos filhos, longe de qualquer agito e badalação, totalmente desconhecida por todos. Mas um dia, aparece diante dela um anjo: “Alegra-te muito favorecida, o Senhor é contigo... conceberás e darás a luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus” (Lc 1.18,31)
A história de Maria,se torna uma “bagunça” a partir de então. Suspeitas da comunidade, do noivo, da família. Foge para se encontrar com Isabel no deserto da Judéia e faz uma visitinha de 3 meses... estratégica, não?
Esta “confusão” é o método de Deus. Ele a orienta para um chamado, para uma vocação. Quantos homens na história, com suas vidas certinhas, viram de repente, sua vida tornar-se uma nova realidade?
Gosto muito da história dos patos gordos:
Certo fazendeiro canadense sentia-se muito triste ao ver que os patos de sua fazenda, com a chegada do inverno, desapareceriam do lago em frente a sua casa, procurando lugares mais quentes. Um amigo disse que os patos ficariam se ele providenciasse abrigo e alimentação para eles. O fazendeiro investiu nisto, e eles realmente ficaram, mas algo ruim aconteceu: Os patos engordaram, e no ano seguinte, quando surgiram outros patos, eles não podiam segui-los, porque no inverno estavam apenas comendo e não se exercitaram.
Quão perigoso é para nossa vida vivermos assim, como patos gordos.
Deus, não raramente nos tira desta situação de conforto, para nos colocar em lugares onde seremos mais desafiados e produziremos mais para o reino de Deus.

2. “Confusão” nos dá perspectivas antes ignoradas e nos revelam portas não consideradas. O livro, “Quem roubou meu queijo”, autoria de Spencer Johnson, narra a fábula de dois ratos e dois duendes encerrados em um labirinto, e que de repente precisam lutar porque os queijos não se encontram mais no lugar onde sempre eram colocados. Apesar da hesitação inicial, um dos ratos busca outro queijo, enquanto seu companheiro não pára de lamentar-se e nada faz nada para mudar a situação, apenas espera que o queijo reapareça.
O autor utiliza-se de quatro personagens: Os ratos Sniff e Scurry, e os duendes Hem e Haw para retratar as diversas características do ser humano. Sniff, rapidamente percebe as mudanças. Scurry, sai em atividade, sendo mais pró-ativo. Hem, um dos duendes, não aceita as mudanças, e por isto torna-se resistente. Ele acredita que algo pior pode acontecer. E Haw, o outro duende: Adapta-se a nova realidade e acredita que as mudanças podem levar a algo melhor.
Esta é uma parábola de nossas vidas.
Muitas vezes somos convidados a encontrar novas alternativas. Nossa vida que estava tão sossegada, agora se desestrutura.
Do plano Collor, até o subprime americano que se deu em 2008, quando uma grande crise financeira atingiu todo sistema global de economia, estima-se que 3 milhões de brasileiros tenham deixado o Brasil. Sendo que um 1/3 dos mesmos foram para os Estados Unidos. Esta “confusão” desarticulou muitos, e em alguns casos foi extremamente complexo, mas abriu uma enorme leque de possibilidade para muitos.
Deus usa situações catastróficas para gerar nova vida em Cristo.
O antigo ideograma chinês usado para a palavra crise, vem da junção de duas palavras: Oportunidade e perigo.
Quando Deus desestabilizar seu celeiro. Pode estar apontando para enormes possibilidades. “Portas que se fecham são iguais as que se abrem, se abertas ou fechadas por Deus” (Josué Rodrigues).. Quantas novas portas Deus pode abrir para nossas vidas, através de situações anacrônicas, mas que surgiram do próprio coração do Pai celeste?...
Confusão ou desestabilização abre interessantes portas para a pesquisa e a criatividade. Li interessante artigo que afirmava que ainda não temos encontrada outra energia, porque o petróleo continua com seu preço baixo, e isto desmotiva pesquisadores e companhias em investirem em formas diferenciadas de energia.

3. Colheita abundante só vem quando a “confusão” acontece – “Pelo mexer dos bois, há abundância de cereais”.
Cemitério é um dos lugares mais organizados, mas onde não tem vida. Quando os bois não se movimentam, a vida de Deus não se plenifica. Se sua vida não está em movimento, indague a Deus, em oração, para onde ele deseja te levar. O que Deus está pensando em fazer com sua vida?
Grandes negócios surgem depois de grandes frustrações e crises. Historias de grandes companhias estaop repletas de relatos de situações catastróficas, que se revertem, e no meio das cinzas e dos escombros, começam a surgir novas e maravilhosas oportunidades.
No mês de Agosto e Setembro no Centro Oeste do Brasil, a ausência de chuvas transforma o cenário num clima árido e seco, em alguns casos, a umidade do ar chega em torno de 15%, que é a mesma umidade do deserto do Saara. O que acontece com as plantas nestes dias? Muitas ficam tristes, mas algumas reagem com uma vitalidade surpreendente. É o caso do pequi e do caju, que frutificam na época da seca (se você colocar água em seus pés, ele não produz), além do impressionante ipê e do bougainville que floresce na sequidão. .
Assim o evangelho faz com nossa vida.
Quem poderia imaginar que no galho seco de uma arvore, trabalhada pelas mãos de carpinteiros, nosso Senhor Jesus derramaria seu sangue a nosso favor e nos daria vida?
Deus desestabilizou William Carey para que ele se tornasse o pai das missões modernas. Quando recebeu o chamado para a Índia, seu superior lhe afirmou que ele não deveria se preocupar com os pagãos, porque se Deus quisesse alcancá-los, ele providenciaria meios. Carey entendeu que ele era o meio de Deus, isto gerou uma “confusão” na sua história, para abençoar milhares de outras vidas.
Não se assuste com dias maus. Apenas indague o seu coração e pergunte a Deus: O que Deus está querendo fazer com esta “confusão” que estou experimentando. Já que ele me ama e é um Deus amoroso, o que ele deseja fazer com minha vida?

Conclusão:Talvez nos assustemos com o inusitado, com a dor e o desconforto da aparente desordem que eventualmente temos que enfrentar na vida. Não devemos nos assustar com os dias maus. Devemos continuar ao lado de Deus, indagando o sentido de tal situação, e para onde Deus pode nos levar através desta experiência muitas vezes tão difícil.
Mas nunca se esqueça que, sem o desconforto do parto, não há geração de vida.
Que abundância de cereal se dá apenas quando os bois se movimentam dentro dele...

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