segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mc 5 A realidade do Mal

Introdução:

Sempre surge muita discussão em torno da idéia do mal: Esta “coisa” chamada real “mal” realmente existe, ou trata-se de um mito? Quem sabe trata-se apenas de uma tentativa dos seres humanos de explicarem o inexplicável, de resolverem as dimensões do mistério? Seria o mal uma força impessoal ou trata-se de um ser, com personalidade e inteligência?

I. A Realidade do Mal -

A. Pesquisadores admitem a realidade do Mal -
Scott Peck, conhecido e apreciado psiquiatra, cujos escritos foram traduzidos por uma editora secular do Rio de Janeiro, resolveu adentrar a questão do mal, num livro chamado “o povo da mentira”, cujo subtítulo é: “Analisando a psicologia do mal”. Nele, faz uma pergunta intrigante: "O mal existe?" Para ele, antes de mais nada, trata-se de uma questão intelectual: "Existe esta coisa chamada de mal espírito, o mal de forma pessoal?" (O povo da mentira, Rio de Janeiro, Imago, pg 182). Ele afirma que quando começou a fazer esta pergunta, de forma orgulhosa e aberta, não admitia esta tal possibilidade, mas depois que acompanhou dois pacientes no seu consultório, ele começou a aventar tal possibilidade. Leu muito material sobre assunto, segundo ele, na maioria simplista, ingênua ou sensacional, mas encontrou também alguns poucos autores que pareciam genuínos e que deveriam ser levados em consideração. Andando com um grupo de pessoas cristãs que tratavam de pessoas com tais sintomas, acompanhou dois casos de possessão satânica, e concluiu sua análise com a seguinte afirmação: "Eu agora sabia que Satanás é real. Eu o havia encontrado. (op. Cit. Pg. 183).

B. A Bíblia nos ensina de forma aberta e direta sobre o mal – O mal está presente na Bíblia desde o inicio do mundo (Gn 3.1), e até mesmo antes da criação do mundo (Ez 28 narra a queda de Satanás, presumivelmente antes da fundação, porque ele aparece sem qualquer cartão de visita como agente tentador na queda da raça humana). Ele está presente nos livros históricos, proféticos e poéticos, surge de forma aberta no ministério de Jesus, e o livro de Apocalipse mostra sua atividade de forma direta sobre a humanidade, até sua derrota final quando será lançado no lago de fogo e enxofre em Ap 20.

C. O Ministério de Jesus é claramente confrontacional – Os Evangelhos estão repletos de situações onde Jesus confronta e é confrontado pelo diabo. Logo após o batismo, ele tem um encontro direto com ele (Mc 1.12); no inicio do seu ministério, Satanás já intervém. “Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus!” (Mc 1.24). O texto que ora consideramos é intrinsecamente grave e pleno de esperança para aqueles que tem sido manipulados e dirigidos pelo mal. Jesus nos ensinou a orar para que Deus nos livrasse do mal, outras traduções falam “livrai-vos do maligno”, que traz uma objetividade e pessoalidade para o mal.

D. O Mal na Bíblia, não é uma força impessoal, mas uma pessoa – Tem nomes próprios como “demônio”, “Satanás”, “diabo”. Ele é um ser de inteligência, pessoal, age nas tentações buscando o lado pior de nosso ego para nos levar à queda e ao distanciamento de Deus. Kivitz define tentação como “o encontro do pior dos seres com o pior que há em nós”. O maligno, por oposição, é contrário à natureza de Deus e seus propósitos.

II. A Natureza do Mal –A. A Bíblia o descreve com adjetivos que descrevem sua atividade -

a. “Príncipe da potestade do ar, do espírito que atua nos filhos da obediência” (Ef 2.2). Vale a pena considerar que “Potestades” é um termo sofisticado para “poderes”, e o texto fala também que ele “atua nos filhos da desobediência”. Reforça a atitude de rebeldia e oposição a Deus, presente nos filhos da desobediência.

b. “Espírito imundo”- aponta para a realidade de que o maligno degrada e rouba a dignidade dos seres humanos. Por natureza ele é anti-vida, oposto aos propósitos de Deus para a humanidade, e também ao Espírito Santo, que por sua natureza, gera santidade ou desejo de se aproximar de Deus. O espírito imundo gera imundície, sujeira, podridão e depravação moral.

c. “Espírito maligno”- Esta é outra descrição que várias vezes é usada na Bíblia. Fala-nos de sua ação na história e na dos indivíduos gerando o mal, em todas as suas expressões mais sutis e descaradas. Ele age:

i. Individualmente – (Mc 5.3-5) – Este homem é subjugado por uma estranha força que o conduz para a perda de sua dignidade. Muitos jovens e lares tem perdido sua vida, por causa de ações malignas sutis, mas sempre degradantes.

Possessão – Mente e corpo são inteiramente dominados por forças espirituais. No Brasil falam muito nos cultos afros e no espiritismo sobre “entidades”. O corpo é possuído pelo mal, a pessoa tem “duplas ou múltiplas personalidades”. No caso do Gadareno eram muitos, já que se tratava de uma legião (Mc 5.9).

Opressão – Trata-se de pessoas que vivem sob a influência do mal, muitas vezes sem perceber. Vivem debaixo de ameaças e medos, quando estão lúcidos, ou sob pesadelos e angústias durante o sono. Sem querer satanizar todo processo psiquiátrico, já que nem nós somos ingênuos, nem a Bíblia nos ensina assim, muita depressão pode ser uma forma satânica para nos roubar a alegria e a beleza da vida. O mesmo pode se dar com síndromes de pânico, determinados estados de bipolaridade ou mesmo esquizofrenia. Se tudo é psiquiátrico, nada é maligno, mas se tudo é maligno, nada é psiquiátrico.
Em todas estas situações, Satanás rouba nossa paz, destrói a alegria e beleza da vida, mata nosso prazer de viver. Mesmo pessoas cristãs, sem o perceber, vão aceitando sugestões, culpas e condenações do diabo. 1 Jo 3.8 nos ensina: “Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo”.
Satanás pode agir, através de uma experiência traumática. Já vi pessoas que foram abusadas sexualmente na infância, sofrerem durante anos debaixo de uma angústia não explicada, desejo de morte e culpa inconsciente. Pode agir através de uma experiência traumática. Vi várias destas experiências com pessoas durante meu ministério:
 Certa mulher não conseguia dormir porque sofrera uma acidente de trânsito na pré-adolescência, e de alguma forma, Satanás entrara por esta brecha e ela foi libertada numa reunião de grupos pequenos em nossa igreja.
 Outra mulher foi libertada de uma depressão que a deixara praticamente imobilizada para a vida e para o trabalho, numa reunião de oração.
 Outra foi liberta de uma depressão histórica, numa experiência com Deus, dentro de sua casa, lendo a Palavra de Deus e orando numa madrugada.
 Um rapaz, participou de um linchamento de um rapaz que estuprara uma jovem na sua cidade. Não houve condenação, ninguém ficou sabendo, mas o diabo passou a dominar sua mente e sua vida. Entrou para a macumba e o diabo rolou solto na sua família, até que ele se encontro com Jesus.
Muitas pessoas tiveram experiências pesadas na sua vida. Bacanais, abusos, violência, sessões de macumba, de invocações de demônios, ou supostamente de pessoas que já morreram (A Bíblia ensina que os mortos não voltam, mas que estas experiências são com espíritos malignos). Estes envolvimentos com coisas mal contadas, mal resolvidas, coisas malignas ou morais, precisam passar pelo perdão de Deus. O mal vai penetrando sutilmente não só nestas pessoas, mas eventualmente caminhando de geração em geração, até que Cristo penetra, com seu Espírito, em nossa história e, agora, resgatados pelo seu sangue, passamos a construir uma nova historia. Ás vezes são disputas históricas por heranças, bens e intermináveis conflitos familiares.
Precisamos orar: “Livra-nos do mal”, ou ainda mais especificamente, “livra-nos do maligno!”

ii. Corporativamente – Influência numa cultura ou numa etnia. Em Mc 5.14-16 vemos o mal dominando os habitantes de Gadara. O mal está ali presente, e eles convivem com ele, mas a presença de Jesus os assusta.
ii. Existem variações do mal: Endêmico, sistêmico, corporativo. Hanna Arendt, filósofa alemã trata da banalização do mal. Como alemã ela se assustou ao perceber que seu povo, havia apoiado o genocídio praticado contra os judeus. No Brasil, temos que conviver com a cultura da impunidade e da corrupção, que se alastra, penetra em todos os níveis e instâncias públicas e sociais.
iii. Robert Linthicum fala do mal corporativo. Países como Líbia e Venezuela, que esgotam suas riquezas petrolíferas e mantém uma sub-cultura de pobreza e exploração, com líderes políticos corruptos fazendo farra com o dinheiro que poderia ser a solução destes países, com sua população lutando pela sua sobrevivência. A riqueza destes países, dominados pelo mal, não gera melhoria qualidade de vida para seus habitantes.
Precisamos mais uma vez orar: “Livra-nos do mal”, ou ainda mais especificamente, “livra-nos do maligno!”

Como o Evangelho pode nos libertar? Varias lições podem ser vistas neste texto:

1. A compaixão de Jesus – Este texto nos surpreende com a descrição de Jesus, indo a Gadara. O que Jesus vai fazer ali? Aquele povo é fechado para sua mensagem, chegando inclusive a expulsá-lo de lá. Eles não são receptivos à sua mensagem, nem ao seu ministério. Aquele povo não era judeu, era uma nação ímpia, que possuía costumes, língua e culturas diferentes. Por que Jesus vai até àquele lugar?
A única coisa que podemos ver no texto é que ele se dirige para Gadara, apenas para libertar aquele homem do seu cativeiro espiritual. Este é o único ato de Jesus, e tão logo ele termina aquele exorcismo, toma novamente o barco e retorna para a Galileia. Este texto nos revela o amor de Jesus por aquele homem. Assim Jesus quer tratar cada um de nós, assim ele nos vê com esta particularidade. Jesus é capaz de atravessar o mar para trazer-nos a liberdade. Ele deixou a sua glória para nos libertar, morrendo naquela cruz, levando sobre si toda nossa culpa, condenação, ira.
Aquele povo expulsa Jesus e fica com o mal. Desta forma mantém o ciclo da ação maligna. Os espíritos malignos ainda habitam aquela região. Houve libertação de um indivíduo, mas não da sociedade. Estes demônios vão aflorar em outras vidas indefesas. Este povo teme mais a ação de Cristo que a convivência com o demônio (Mc 5.15). São culturas, como a nossa, que se acostuma com o mal e até lhe dá nutrição para que continue operando. O mal se alimenta da força que lhe damos. Jesus só realiza uma obra de libertação em Gadara. O texto mostra que Jesus o faz movido pela sua compaixão. Que coisa maravilhosa!

2. A presenca de Jesus desestabiliza o mal – Sua presença é agressiva para aquelas entidades que habitam no corpo do gadareno, gerando “tormento” para o diabo. “Que temos nós contigo, filho do Deus vivo, viestes atormentar-nos antes do tempo?” (Mc 5.7). Que pergunta intrigante. A presença de Jesus confronta o mal.
A solicitação dos demônios: “Não nos mandes para fora do país” (Mc 5.10), também é inquietante. Seriam demônios especializados na cultura gadarena, e que não queriam se afastar daquela geopolítica? Ou estariam se referindo a um outro país onde inexoravelmente vão habitar, ou seja, o inferno. A Bíblia afirma que o inferno foi preparado para o diabo e seus anjos.
(Mt 25.41) e que já está determinada a condenação dos espíritos malignos. “O príncipe deste mundo já está julgado" (Jo 16.11; 2 Co 4.4; Hb 2.14). A derrota e condenação de Satanás já está determinada: "E o Diabo, que os enganava, foi lançado no Lago de Fogo e Enxofre, onde estão a besta e o falso profeta. De dia e de noite serão atormentados para todo o sempre" (Ap 20.10). Portanto, esta afirmação dos demônios se relaciona com a descrição que outro evangelista faz: “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8.29). Satanás sabe o que o espera, mas enquanto não vem o juízo final, encontra-se relativamente tranqüilo, mas com o surgimento de Jesus na terra, percebeu que seu julgamento poderia estar sendo antecipado. Eles pedem para não sair do país. O inferno é um lugar tão ruim, que nem Satanás e seus demônios, que dominam este território, querem ir para lá.

3. O senso de missão de Jesus – Ele liberta o rapaz mais estranho e o transforma num missionário. Aquele que fora endemoninhado, quer seguir Jesus e vir para Galileia, mas ele o instrui para que fique na sua terra. “Vai para tua casa, para os teus, anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez, e como teve compaixão de ti” (Mc 5.18-20). Aquele rapaz agora é ordenado missionário. De possesso a missionário, é esta obra maravilhosa que o Evangelho pode fazer em nossa vida.
O Evangelho já transformou assassinos em apóstolos (At 22.4,19), pessoas desencontradas em homens de valor. Já transformou prostitutas e mulheres de condutas questionáveis. Todas as quatro mulheres que aparecem na genealogia possuem alguma sombra no seu passado: Rute é moabita - para o judeu, todas mulheres que viam deste povo eram de mau caráter, além do mais, era gentia; Tamar – age como prostituta para seduzir seu sogro (Gn 38); Raabe - era prostituta, vendia seu corpo; Batheseba – Provocou uma crise no governo de Davi com um escândalo político. Tudo isto revela a graça de Deus. Deus não está interessado em currículo de ninguém, Ele é especialista em transformar gente sem valor em gente valorosa. Trazer dignidade para pessoas sem dignidade. Transformar e restaurar pessoas. Deus escolhe pessoas que nada são para confundir as que são e mostrar sua a graça restauradora e renovadora.
De possesso a missionário – Este é o poder transformador do Evangelho!

Conclusão:Existe alguém aqui, prisioneiro de ações malignas?
Alguns aqui percebem coisas que vão para além do ordinário e cujo conteúdo é eminentemente diabólico e gostariam de orar por este assunto? Quem aqui está preso nos eventos da história pessoal e familiar? Existe algo no seu passado ou no seu presente que o aprisiona, impedindo-o de ter uma vida plena. Este texto nos ensina que Jesus tem compaixão, Jesus veio para confrontar o mal e nos dar senso de missão para glória de seu nome.
Venha a frente para orarmos juntos...

Samuel vieira
Anápolis, 03 set 2011

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